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CULTURA CONQUISTENSE NÃO, CULTURAS!

 

Por Thais Machado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vitória da Conquista, conhecida como “Suíça Baiana”, pura contradição, do alto do Guarani, bairro periférico da cidade, a cultura pulsa. Que cultura é essa que não se funde ao discurso da cultura homogênea que elaboram sobre a cidade? Discurso que faz tornar culturas e pontos de vistas diferentes, numa mesma coisa. O Dj Diego Santos Guerreiro, conhecido como Guerreiro, grande referência na histórica política e cultural do Hip Hop em Vitória da Conquista, é nosso entrevistado para falar de um lugar de cultura na cidade, de uma cultura periférica ativa, porém invisibilizada e subordinada, e sobre os privilégios garantidos para uma “cultura do centro”, que insiste em falar por todos. Além de rapper e DJ, Guerreiro é um dos fundadores da primeira organização de hip hop (Posse Malês Uhuru) em Vitória da Conquista. Articulador, tem participado da construção de diversas atividades que envolve esse seguimento, inclusive auxiliando na formação de vários grupos de Rap da cena local.

 

O território é um lugar de afirmação. Quando falamos de cultura negra ou cultura da periferia, te faz parecer que estamos criando um gueto e ficando por lá? Se sim, sua interpretação é bastante rasa, e infelizmente muito comum - de certa forma pertinente, mas não diz tudo. Uma coisa é certa, a visão de unidade cultural está longe de ser conformação para a produção que se faz na periferia contemporânea, ao contrário, ela se posiciona desde muito tempo como uma cultura de afirmação por um lado, e contestação de outro. Toda cultura e conhecimento, na verdade, está afirmando seu ponto de vista, mas a cultura dominante sempre simula uma universalidade forjada. Não é de hoje também que a elaboração de uma cultura de unidade é fabricada em contextos como o Brasil. A periferia é um território gigante! É o lugar onde a cidadania é historicamente negligenciada. Essa negligência é a mesma que estrutura um tipo de teorização que faz pensar que a periferia não produz conhecimento, nem arte e nem cultura. A parada é sinistra, e faz parte do esquema rolo compressor que existe sobre nós. O lance é: existem culturas e culturas.  Nenhuma é mais do que a outra e devia ser assim, mas não é. Quando falamos cultura da periferia não está aí embutido um juízo de valor. Na periferia sabemos que é ruim o asfalto, o esgoto, a escola, o transporte, a violência, e que esses problemas não são produzidos por quem é de lá. Mas a cultura, mesmo feito em condições adversas, continua sendo cultura. Em Vitória da Conquista, a cultura produzida na periferia parece servir de combustível na hora de ilustrar a diversidade, ou quando o interesse é se fundir pra tornar tudo apaziguado. Na real, a cultura na cidade é organizada de modo a privilegiar um recorte de raça e de classe. Um tipo de segregação, como fruto da apropriação desigual do desenvolvimento capitalista e de recursos políticos para atuação. Uma desigualdade, que carrega por circunstâncias históricas e sociais uma oposição racial à presença dos negros e do que produzimos. A constituição de organismos fortemente ideológicos respaldados na construção de mitos como o da democracia racial, permanece latente no imaginário e nas práticas que faz a coisa acontecer.

 

No último dia 16 de abril, no “blog do Rodrigo Ferraz”, mídia local de informação, o produtor cultural e membro fundador da Casa Fora do Eixo Vitória da Conquista, Gilmar Dantas, postou uma agenda do fim de semana com 54 eventos listados. Segundo sua postagem, “a cidade mostra que consegue oferecer dezenas de opções sem precisar trazer atrações de nível nacional – a própria cena local já dá conta de preencher vários espaços”.

 

 

 Há quanto tempo você atua no Movimento Hip Hop Conquistense e como é pra você fazer cultura a partir do Hip Hop na cidade?

 

Tenho atuado desde de 2002 pra cá, e meu contato real mesmo é direto com quem faz esse tipo de cultura, e fazer cultura a partir do Hip Hop aqui, é só você se imaginar preto, lidando com cultura de preto, em uma cidade elitizada, racista, preconceituosa e intolerante.   

 

 O que você poderia apontar nestes anos como avanços de uma política voltada para a cultura na periferia?

 

No meu ponto de vista, não ver a cultura, a arte acontecer de forma independente, tendo os próprios da comunidade como protagonistas, fica complicado falar de avanço.

 

 

O que é a Cultura negra e Periférica pra você?

 

É a diáspora preta e onde ela se encontra no Brasil, com seu conjunto de manifestações influenciadas por nossas irmãs e irmãos africanos, aqui acontece ...

 

 

 O que você pensa sobre essa idéia de “cultura conquistense” que faz parte de um discurso elaborado tanto pela política de quem governa a cidade, como também de uma classe de intelectuais e artistas locais que fazem cultura?

 

A primeira palavra que vem em minha mente é a limitação. Acho distante, ''somos de outro mundo.'' (risos)

 

 Como tem sido sua trajetória artística e de trabalho no contexto da cultura da cidade?

 

Está ao alcance do que está próximo do que faço, que acaba sendo um público especifico, não que eu queira que seja, até porque penso que devo levar a todos os lugares e pra todo tipo de gente. Fui convidado diversas vezes por produtores que desenvolvem atividades artisticas tidas como marginalizadas, mas, que tem alcançado outros tipos de público de realidades distintas, e lá pude aproximar esse público diante o que faço no momento, mas, ainda é pouco, é necessário avançar ... 

 

 

O que um dj como você gostaria de ver acontecer na cidade que favorecesse seu trabalho e sua atuação?

 

A cidade não favorece meu trabalho, nem minha atuação. Favorecer o meu trabalho e minha atuação significa fortalecer uma cultura que é viva, e sentida por aqueles que na sua maioria não tem poder de voz,  mas tem visão para enxergar além do que está sendo visto por outros que tem voz, espaço e poder, pois, o que está para acontecer já é o esperado por aqueles que não se sentem incluidos ou contemplados. É necessário mais que isso, até pra que eu com minha visão, possa falar de avanço, quem sabe na próxima entrevista isso role ...

 

 Conquista é racista do ponto de vista cultural?

 

É ''escuro'' que sim. ''O racismo é uma doença que se espalha por todo o corpo, na cultura não é diferente. Mas, nós temos a cura, mas, ela não irá dar um retorno financeiro aos já favorecidos que não passam por esse problema, por isso, os curadores são ignorados.''

 

 O que você diria sobre a postagem do produtor cultural Gilmar Dantas, quando diz que Conquista oferece uma ampla variedade de opções para eventos e shows?

 

Oferece uma ampla variedade de opções para que tipo de evento? E pra que perfil de público? Acabei de dizer, moro em uma cidade elitista, racista, machista, intolerante e preconceituosa, uma cidade que anda nos conformes do que é padrão. Esses espaços tem seus donos, eles vão abrir suas casas de shows para todo tipo de manifestação cultural e seu público do jeito que ele é? Ou agente precisa se moldar pra ver 'se' conseguimos ser aceito? Cobrem o quanto quiserem, mas, avanço pra mim, seria se esses espaços estivessem acessiveis para apresentar a arte da forma que ela é, do jeito que o artista é junto a seu público, se não for assim, qual manifesto cultural, inclusive de periferia irá sobreviver de forma tranquila? Aí é mole criticarem o gueto por ele ser gueto ... 'Nóis por nóis é a fita!

 

SOMOS NÓS, FALANDO DE NÓS, PARA TODO MUNDO.

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